quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Férias em Floripa






Primeira noite

Hoje, depois de quase dois anos, é a minha primeira noite sozinha. Esta é a primeira noite que fico sozinha nesta casa, afinal, mudei para aqui grávida... Na semana passada, quando cogitamos essa possbilidade, isso parecia extremamente agressivo. Essa é a minha primiera noite sem aquela pessoinha tão amada bem pertinho de mim. Essa é a primeira noite que não sinto a apreensão do meu amadinho acordar de repente. Enfim, essa é a primeira noite de aprendizado. Tenho que descobrir como é ficar sozinha uma noite inteira.

Há duas semanas, cheguei em casa e o Otto estava dormindo, isso partiu meu coração. Por sorte, ou pela demanda da mãe, ele acordou e ficamos um pouquinho juntos. Foi estranho e sofrido. Hoje esta mais leve, foi uma escolha. Além disso, almoçamos juntinhos, o que alimentou a minha alma...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A tal da birra

Nesses dias, das sagradas férias, a vivência ficou bem mais intensa para o Otto. Ele passou a entender muito mais coisas e se interessar por outras tantas. O mundo cresceu e a suas complicações também. Na mesma proporção, claro. Agora, as suas demandas, bem mais amplas, não são satisfeitas imediatamente e algumas nunca são. Isso tem gerado muita irritação e muito aprendizado para a gente.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sorriso sagrado

Tudo é sagrado. Agora, temos um carinha que faz a gente se lembrar direto de que tudo é sagrado. Desde a vivência do Temaskal, tudo que o Otto gosta ou, simplesmente, chama mais a atenção dele num momento especifico é sagrado. Petinho sagrado, bolinha sagrada, papazinho sagrado, caminha sagrada.... E tem também a reza. Cerra os olhos, bem firmes, e fala: brigada papai do ceú, sagrado, pronto!
Hoje, pela manhã, no meio de um trabalho árduo, o Rodrigo me enviou a imagem do sorriso sagrado. Me salvou.  Como é bom lembrar que  é possível transformar a rotina em um ritual sagrado.  Basta focar no amor.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cadê a tribo?

Cadê a minha aldeia para me ajudar a criar o Ottinho? Sinto falta da tribo....  Nessa rotina que criei, a minha familia ficou tão longe...  É fato. a aldeia é fundamental para criar uma criança. Um circulo de amor, além de pai e mãe e um casal de avós.

sábado, 29 de outubro de 2011

Teve samba também



Na Capoeira







Sábado intenso

Começamos com um bom café da família reunida. Seguimos com um bela caminhada regada com pitangas azevedas dos pés da Mercedes. Chegamos e encontramos um Pelé estranho, lotado e demorou um pouco para  encontrar nosso lugar, na boa aula de capoeira. O Otto chegou chegando. Olhou todos descalços e falou: Tira. Tira seu também. Sentou a roda, bateu palma, alongou e jogou capoeira. Depois acompanhou a bateria mirim das Rosas De Outro, que tambem estava por lá.
E mais. Almoço feito pela mãe. Banhos nos três dogs juntos. Depois, escorrega no box do banheiro. E depois um tombo feito. Credo, que aflição. Foi uma experiência dificil e chata. Um galo gigante surgiu na teste. Duas testas. Não tinha o telefone de ninguém, estou sem o meu celular pessoal. A amada Ana C me salvou mandei um msn para ela. Tudo certo. Cansado, o Ottinho chorou mais um pouco e dormiu sem o jantar. Tinha pedido um macarrão, que ficou intocado na panela

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saudades do banho de balde

Este foi o primeiro banho, nas mãos da Ana Paula

Achei um monte de foto do Otto bebezinho no pen drive.  Foi legal visitar essas fontos rapidamente sentada na Maquina da Noticia no clima de trabalho pessado.  

Amamentação e doce

Desde que o Otto nasceu, eu como doces todos os dias. Para me resguardar crie e acreditei na teoria de que amamentar dar vontade de comer as guloseinas. Até então, tudo certo. Eu não engordava. Agora, a coisa virou de um jeito que vou ter que fechar a boca. Ontem, depois de um ano de sete meses, foi o primeiro dia sem doce, pelo menos diretamente. Abusei das frutas, para compensar

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Por favor...

Agora é esse o lema do Otto..... Ele pede as coisas mais absurdas com um tom fofo e reforçando  pofavorrr. Na madruga, voltou a pedir a peitinha nesse desse jeito. Tá cheio de charme

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ottinho

É assim que o Otto tem se chamado. Ele fala, isso é do Ottinho... Pega para o Ottinho....

A danada da febre

Eita, a febre do Ottinho tem sido uma mestre constante. Agora, bateu nos 40 graus e me tirou do eixo. Passado três dias, a rotina ainda está estranha. O cansaço bate forte. São três noites sem dormir. Desde a noite quente, o Otto não dorme direito. Para completar, o tempo não ajuda. Muito seco.
Enfim, o Rodrigo e a Carina levaram o Otto no Cacá na quarta.  Ele pediu para eu ir hoje.... Não viu nada fisiologico, mas a percepção é de ruído com a mãe. Vamos que vamos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Saudades de mãe

Agora é da minha mãe. Ela voltou para BH. Eu, Otto, Rô e Karina sentimos a casa vazia...
O Otto abre o sofá e fala: cama da vovô mitis...

sábado, 24 de setembro de 2011

Peitinha, peitinha...

Temos uma nova fase da amentação. A peitinha, agora, começa a virar um porto-seguro. Basta o rapazinho começar a sentir insegurança para gritar pela peitinha. Então, estamos começando a aprender a substituir a peitinha por uma palavra forte, um beijo ou abraço acolhedor. Uma nova missão. Uma nova comunicação.
No finde passado, fizemos temaskal. Dessa vez, o Otto entrou.  Ficou cantando animado até fechar a porta. Quando fechou, o que ele fez? Claro, gritou: Peitinha, peitinha. Mamou um pouquinho. Se acalmou. Mas não durou muito. Cinco minutos depois, chorou.. Saimos e fizemos temaskal na fogueira. Ele acompanhou atento o trabalho dos homens de fogo. Também seguindo o roteiro, teve febre à noite. Um ritual das noites fora de casa, que também precisa de substituição.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Separação bruta

Um ano de retorno ao trabalho. Nossa, que bom ver essa fase com essa distância temporal. Orgulho muito da minha família pela persistência na amamentação, no contato físico e na manutenção do olho no olho diante da interrupção bruta da maternagem.  Fico feliz em concluir que demos um jeito, metro prá ca e prá la. Almoço na praça, berçario, babá, bom de leite, geladeira nova, potes de leite e Otto sempre pertinho.
Por outro lado, me dá uma tristeza em ver que esse modelo de trabalho e relações é falido. Separar uma mãe do filho com apenas cinco meses. Loucura... Tá errado. Descobri que estamos no errado, o errado é aqui e nossa essencia é descobrir dentro do errado o que é bom e verdadeiro, tem isso tudo aqui dentro.
Eu descobri. E dá-lhe Ítalo Calvino.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E canta ...

Finde bem canino



Começou, na sexta à noite, ele quis deitar na porta de casa com o Tom. Depois, no sábado se acabou com as meninas, Didi e Branca, na Mercedes. No domingo, brincou com a Filô e, para encerrar, grudou a Mafaldinha e foi se esconder na sua casinha.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Chamego dos avôs

Na curtição dos avôs. Em BH, no colo da vovó Mirtes.Quando a gente fala da vovó Mirtes, ele grita: elebador. E ama o elevador do prédio de mãe. E ela dá muitas voltinhas com ele. E do vovô Valdir, fala: que tuto. Aprendeu a pisar nos estalinhos.
 


Rio e São bem pertinho

Hoje, acordo, às 4h50, com o Otto bem feliz correndo em direção a minha cama. Ele atravessou a casa todo. Do quarto dele para o meu sozinho, sem choro. Tomei um susto, mas morri de orgulho. Isso é resultado da companhia do Rô na hora de dormir. Foi o Rô que fez ele dormir e colocou na caminha dele no quarto dele. Eita, mas o pai é fundamental mesmo na separação. Me lembro quando a Raquel falou que a gente tinha que cuidar para que a tão falada distância do quarto dele para o nosso não virasse São Paulo/ Rio. É claro que acabou virando, principalmente, no inverno. Mas agora que o Otto não anda mais, só corre, o trajeto ficou bem pertinho.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu reconheço o choro da minha criança

Reconheço as necessidades básicas de afeto e proximidade
Reconheço a sepação prematura
Mas reconheço que posso reforçar os vínculos.
Que somos capazes de estarmos conectados.
 E que vamos aprender a lidar com a inevitável experiência de abandono, sem tantos estragos.
Reconheço o amor

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quanto tempo

O Otto já é um rapazinho. Canta muito, dança bem animado e conta casos. Cita as cores, a preferida é a mermelho. Trabalha concentrado para abrir as portas do brinquedo com as chaves certas. Toca muitas músicas. Grita: bate, bate e começa a batucar com tambor, tamborim e solta as baquetas no que encontrar pela frente. A casa está uma festa.




Tal pai, tal filho.

Nesse último mês, vivemos muitas emoções intensas. Tivemos a perda do amado Loló, as sensações ainda estão estranhas. Ui, como dói retomar isso. Depois, ufa, tivemos férias na praia - uma aventura que vai ficar na história-, casa da Katja, casa da vovó Mirtes e fogueira aqui na Guararapes.


Que delícia. Perdeu o medinho e foi que foi.



Na brinquedoteca do amigo Davi.... Demais.
Ai que susto!!! Aprendeu essa soltando estalinhos com o vovô e não parou mais.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Parindo mais um pouquinho

Depois que li, achei bem bobo compartilhar o meu relato. Deu até um certa dose de arrependimento. Mas, no final, das contas achei uma curtição. Foi uma delícia saber que o meu relato soou bem para a Keila, uma barriguda de mais de 40 semanas. Fiquei lembrando de como eu amava ler e reler os relatos quando estava esperando o Ottinho... Cada relato era, no mínimo, uma lagríma que limpava alguma coisita que, na maioria das vezes, nem mesmo tive a consciencia do que era, mas ficava a sensação era certeira de que estava ficando mais leve, claro, que só na alma, porque o corpito...
Enfim, também amei o comentário da Anna Marcia, que tanto admiro, da Quel, sempre bem humorada e todos os outros. Enfim, foi uma experiência bem legal. Ah, e ler a doula Natalia, foi demais. Acabei parindo mais um pouquinho
E como bem lembrou a Anna Marcia,a gente pari como a gente vivi  . Então, sigo com os  meus longos trabalhos de parto. Talvez, colocando isso com tanta clareza seja um passo para começar uma mudança ...


Kênia,


Parabéns pelo lindo relato... estou prestes a parir minha filhinha, 40s e estes relatos nos ajudam muito a superar nossos medos e saber que a perseverança e o amor são fundamentais para tudo acontecer... além da equipe que está te apoiando... muito peitimmm na vida do Otto... saúde e paz...

abs, Keila Reis, da Julia 40s3d... retafinal!
 
 
 
Kenia querida!


Que bom ler teu relato, agora tb mãe.

Lembro de qd vc foi com tua mãe no gama, de qd vc pariu.

Sempre um exemplo de muita garra e amor.

Lembro do teu relato na reuniao, Otto com 18 dias eu pensava, logo sou

eu, sera q aguento tto tempo de expulsivo?

O que faz o TP travar?

O que cura o medo na hora?

O quanto nos superamos pra poder parir e renascer mãe?

Obrigada por compartilhar.

O relato foi doce doce como vcs 3, lindos e doces.



beijo e felicidades.

A gente pare como vive a vida.

finalmente seu relato saiu, mesmo depois de mais de um ano no expulsivo



com amor

anna e mattias 12m pd



Uau!!!


Viva vocês três!

Bjos, Eliane.

Lindo Kênia! Revivi cada momento... esses nossos laços são eternos.


Parabéns por serem esse casal tão especial, beijos saudosos,

Natalia

Ai, amei!!!




Obrigada por compartilhar seu relato, Kênia! Muito bom de ler, emocionante,

parabéns!!!



Um beijo,



Quel

do Caio, 1a5m, PC

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Meu relato do parto

O relato do parto foi inscrito há tempos, dois dias depois que ele nasceu. Não sei porque, praticamente nunca compartilhei. Mandei como encorajamento para uma materna que iria parir e para o Rô. Agora, sei lá porque me deu vontade de publicar. Lá vai.

RELATO DO PARTO DO OTTO





Hoje, dois dias depois, o que mais me emociona é concluir: a intensidade - minha do Rô e do Otto -, durante o longo trabalho de parto, resultou na formação da nossa família.


O carinho, a dedicação, a confiança e o amor do Rô foram fundamentais nessas mais de trinta horas. Ele foi um guerreiro e tanto. Me lembro que a Ana Cris falava nas reuniões no Gama que beijo de marido na boca funciona como anestésico nas horas de desespero. Posso garantir que é muito mais do que isso.


Agora sei o que é o tal amor incondicional. Naquele momento tive essa experiência de totalidade com os dois (Rodrigo e Otto). Nossa, é uma intensidade de amor. Claro, com muita dor.


Para mim, na real. O parto foi ainda mais longo. Começou na quinta-feira. Enfim, foi montado o guarda-roupa do quarto do Otto. Era o que, na minha cabeça, faltava para deixar a casa nova pronta para a chegada do meu filhote. Ele já podia nascer. Tava tudo certo. Todas as outras pendências já tinham sido resolvidas. A lista foi grande. Teve a bendita carência do plano de saúde (dia 26/02). Só teria reembolso do parto se ele nascesse depois dessa data. Também tinha a casa, um detalhe que falta para o tão esperado parto domiciliar. A reforma já dura 12 longos meses. Na semana do carnaval, conseguimos mudar. Tudo certo. O Otto é um cara muito bacana. Esperou gentilmente, a gente vencer todas as nossas neuras.


Voltando na quinta. Tivemos consulta com a Catia. Eu, mãe e Rô. Lá, falamos agora está tudo certo, ele já pode nascer. Tinha certeza que a hora estava próxima, ele não precisa esperar até dia 09, data prevista. O Rô falava com segurança que seria no final de semana.


Mãe, para entrar no clima parto humanizado, foi na reunião do Gama, conheceu a Ana Cris e a Catia. A Natália, a doula, mãe já tinha conhecida na quarta-feira, quando ela veio aqui em casa.


Cheguei da reunião do Gama, em torno de 23h, mas no pique de arrumar as coisinhas do Otto no guarda-roupa novo. Dormi bem. Acordei, em dúvida, se iria trabalhar ou não. Não fui. De manhã, ainda trabalhei de casa, algumas ligações e e-mails. No final da manhã, fui no banheiro e escorreu uma água na minha calcinha, mas nada de cachoeira. Fiquei na dúvida se era xixi. Mãe olhou e achou que não era. Resolvi esperar. Fui fazer uma massagem.






Pronto. Escorreu até o pé. Liguei para Ana Cris. Ela falou se não escorreu de cachoeira, vida normal. Pronto. Segui. À noite, o Rô fez um churrasco de legumes com bastante pimenta. Cardápio perfeito. Estava ansiosa para entrar em trabalho de parto. A pimenta, dizem, ajuda. Os pais dele estavam aqui. Pronto, mais água escorrendo pelas pernas, mas nada de contrações. Antes de dormir, fui no banheiro e vejo que deixei uma gosma com sangue na privada. Liguei para Ana Cris de novo. O tampão estava soltando. “É um sinal que você irá entrar em trabalho de parto em breve“, me animou a Ana Cris. Fomos dormir com muito amor.


COMEÇA O TRABALHO DE PARTO






Ás 3h da manhã, aviso o Rô que estava sentindo a primeira contração. Até então, tinha receio de não reconhecer o que seria uma contração. Mas na hora dei risada, me lembrando da Natália e de mãe falando que eu iria saber com certeza. Dito e feito. Voltamos a dormir, acordo entre uma e outra, mas bem espaçadas.


5h, acordo e as contrações mais próximas, 15 e 15 minutos, mas irregulares. Ficamos na cama. Namoramos muito gostoso. Um amor. Uma plenitude. Só queria o Rô perto de mim. A Lúcia, a faxineira, chegou não queria que ele ficasse em casa. Mas ela está no clima total e bem emocionada. Senti mais força ainda. Ela falou que só iria embora quando o Otto chegasse. Acabei me emocionando.


A cada contração, eu ficava de quatro e acha bem interessante que a dor diminuía quando ficava nessa posição. As 7h ligamos para a Natália, que falou para a gente aproveitar para descansar. O Rô que conversou com ela.


Mas ficamos bem juntos e apaixonados o dia todo. No final da tarde, fomos dar uma bela caminhada. Uma delícia. Na hora da contração, a gente agachava de mãos dadas e depois seguia. Vimos as casas do bairro como se fosse a primeira vez. Voltamos e lanchamos. Eu pensava nos cachorros. O Rô anotava as contrações que continuavam irregulares. Brinquei com mãe. “Ah, isso que é dor do parto?” Ela falou: “vamos conversar mais tarde.....”. Até então, eu tava achando tudo uma curtição.


Eu já estava achando um pouco mais intenso. A Natália veio para ver a gente. Sugeriu tomar um banho e descansar mais. Lembrou que se entrasse no trabalho intenso iria precisar de energia. Nessa hora, eu já estava entediada de não entrar em trabalho de parto. O mau humor e o medo começam a dar sinais. Falei com ela que estava com medo das contrações continuarem irregulares. Nem mesmo queria tomar banho porque tinha medo da água quente atrasar ainda mais o processo. Ela falou que era bobagem porque não tinha motivo nenhum para acelerar nada, porque não tinha nada atrasado. Estava tudo certo. Detalhe: Eu tinha passado o dia inteiro com contrações, namorado, caminhado e não queria tomar banho. Imagina, o estado. Então, resolvi trocar os lençóis da cama e tomar um banho.


Pronto, sai do banho com as contrações bem mais intensas.... Nossa, entrei na partolândia, que felicidade. A água teve um efeito contrário no meu corpo. Acelerou as contrações. Rapidinho quis ir para a banheira, (que é linda).


Fiquei lá. A cada contração ficava de quatro dentro da banheira e balançava o quadril, nossa que efeito bom. A Natália chegou de volta. Aí comecei a sentir a tal dor na lombar que ouvi falar direto sobre ela. Porque até então, as minhas contrações eram mais doloridas na frente. Ela e o Rô faziam massagem na lombar e jogavam mais água quente. Tudo ia bem. Claro, bem dolorido, mas controlável.


A Natália fez exame de toque. Avisou para a Ana Cris que estava com cinco a seis de dilatação, mas que o Otto já estava bem baixo, já sentia a cabeça dele. “Nossa nunca vi um bebe tão baixo nesse estágio”, falou. Pensei, que bom, vou ter um parto rápido. Nessa hora, eu não queria que o Rô saísse mais de perto de mim, mas também reclamava dele. A Natália depois me contou umas histórias engraçadas.






Não sei quantas horas passei na banheira, mas foi toda a fase latente. A equipe maravilhosa, perfeita e tudo de bom, não me tirou nem para fazer exame de toque. A Ana Cris e a Catia faziam algumas acrobacias e me examinaram lá mesmo. Não sei quando a Ana Cris chegou, mas fez exame e estava com sete para oito de dilatação. Nessa hora, estava bem louca já.


Falava um monte de merda. Do tipo, não, não, não. Não vou agüentar... A Ana Cris falou para eu trocar as palavras e falar venha, venha, venha e lembrar que cada contração, era o Otto mais perto de mim. Me lembrou que eu não podia confundir o corpo com as palavras.


Lembro que a Natália ria porque no final de uma contração forte eu falava: UFA. Ela brincou isso vai para o relato de parto. A Ana Cris falou Ufa é bom.


A Ana Cris me ensinou a respirar para ajudar a contração passar. A Natália e o Rô respiravam comigo, o que foi fundamental. Eles me lembravam que quando chegava o pico da contração ela já estava acabando. Assim, a gente seguia. Sentia uma onda elétrica passando pelo meu corpo. Começa devagar na barriga, seguia abaixando e ficava intensa passando por toda a vagina até as minhas costas. O Rô falava a cada minuto que eu estava linda. Falava isso no meu ouvido. Eu me emocionava... Falava que estava muito linda.






Agora não sobrava mais tempo para respirar as contrações ficavam uma atrás da outra. Falei com a Ana Cris que estava difícil não ficar desesperada, ela falou um pouco de desespero não tem problema.


Comecei a dar pitis. A Catia me falou que estava na fase mais difícil, mas estava perto da dilatação total, com nove de dilatação. Quando entrasse no expulsivo, essa situação iria mudar. Nossa fiquei sonhando em chegar o expulsivo.


A conversa da Catia, Ana Cris e Ana Paula na cozinha começou a irritar. Não agüentava o barulho. Pedi o Rô para fechar a porta. O barulho do chuveiro era enlouquecedor. Por isso, era preciso esquentar a água no fogão.


A Ana Cris perguntou se não estava com vontade de fazer força. Pior que não. Veio uma contração e fiz força, sem ter vontade. Foi horrível, doeu ainda mais. Fiquei desesperada. Tive medo da dor. Nessa hora, me desconectei com a dor. A Ana Cris falava em se render a dor, aceitação e tudo mais. Mas essas palavras, tão fortes antes, não faziam mais sentido para mim.


As frases do Rô continuavam me acalmando. Ele falava tá linda, tá perfeito. A Ana Cris também me animava falando que eu não podia estar fazendo melhor. Que estava tudo perfeito. E eu estava me sentindo um lixo de não estar mais firme. Pedi a Ana Cris para fazer alguma coisa. Ela falava: querida, vai passar.


Reclamava da temperatura da água e tudo mais. Me lembro que quando chegava água quente, me confortava um pouco.


Mas não teve jeito me desesperei. Pedi já chorando para a Ana Cris fazer alguma coisa. Elas sugeriram sair da água. Começamos a longa saga do expulsivo. Não tinha mais lugar bom e as contratações fortes para o expulsivo não apareciam. A Ana Cris, com as suas mãos seguras, me carregava pela casa. Detalhe, eu fica agachada.


A Catia me ensinou fazer força, mas não consegui. Fazia força na boca e em tudo quando é lugar menos onde precisa. Aqui uma cena engraçada. Ela me falou que é a mesma força para fazer coco. Então, para não me desconcentrar gritava cantando: vou fazer coco, cocozinho, vem coco, aí coco. A Ana Cris falava : vc não vai fazer coco. E eu explicava para ela que isso era a minha técnica apenas de concentração na força. Para não me esquecer como devia fazer a força.






E o Otto já estava baixo. Mas nada acontecia. Eu colocava a mão e sentia a cabeça dele. Sentia sono, muito dor e fraqueza. Acha que iria desmaiar. Estava ficando mal. Nessa hora a Ana Cris falou que precisava falar comigo. “O seu filho esta aí, mas você precisa fazer força para ele sair. Tem mulher que não precisa, porque tem contrações fortes, mas você precisa apenas fazer força para ele nascer. Ele esta pronto para nascer”


Pronto, aceitei voltar para a banqueta de cócoras que tinha achado horrível. Mas nada de fazer força direito. A Ana Cris com sua fortaleza de parteira, dançou comigo, me levou para o chuveiro, fez agachamento e tudo mais comigo. A força da Ana Cris durante o trabalho de parto é uma coisa impressionante. É um tom acima do racional e das técnicas. É uma força acima desse mundinho.


Pronto o parto parou. Fiquei como medo. Perguntei para a Catia se eu não conseguisse o que aconteceria: ela falou: vc vai conseguir. Mas nada. Madrugada rendeu.... Dormi em pé, no chuveiro, na cama, na banqueda. Nos intervalos das contrações, simplesmente dormia.


Depois de uma chuveirada chorando com a Ana Cris me acalmando perguntei para ela o que iria acontecer, ela falou: vai para o hospital tomar oxitocina na veia. Fiquei em pânico.


Continuamos várias posições e tentativas e nada. O Rô, ali firme do meu lado. Confiante. Tão homem e tão lindo. A Ana Cris mandou parar tudo e todo mundo dormir um pouco para descansar. Deitei na cama com o Rô. Mas as contrações vieram mais fortes um pouco. A Ana Cris falou para respirar e deixar a contração passar.


Mas nessa hora , comecei a sentir vontade de fazer força. Testei. Vi que a contração era bem diferente das outras. Essa tinha o tal empuxo. Fiquei fazendo de quatro com o Rô. A Ana Cris entrou no quarto e falou que era melhor descansar. Deitamos então. Mas quando vinha a contração, eu fazia força. Fiquei nessa. Quando a Ana Cris entrava para me olhar, eu parava. Parecia criança. A Ana Cris colocou todo mundo para dormir.


Numa dessas entradas, ela falou que tinha que me perguntar uma coisa: “Você precisa saber do que esta com medo. Da dor? De ser mãe? O que está te travando? Você não precisa me falar, mas precisa identificar e se livrar disso”. Eu não sabia. Mas chorei muito. Essas palavras acionaram alguma coisa em mim e desabei.


Depois, vomitei. O chato do caqui,que eu não queria comer e eles insistiram para eu comer. Eu tinha pedido, isso muito antes, o Rô um suco. Ele trouxe um caqui, porque eu precisava de açúcar. Ufa, estava começando a me sentir mais livre. Depois a Catia entrou e me falou, você está com medo? Eu chorei muito. Ainda escuto a voz dela: chora Kênia, chora mesmo, deixa limpar. E eu chorei. A Catia me dava umas bolinhas de homeopatia que se espalharam pela casa. Umas ficavam na boca, outras voavam.






Dormimos, todo mundo. Depois de sei lá quanto tempo, a AC veio e me examinou. Ela falou ele baixou mais. Voltou e foi categórica. Vamos fazer o Otto nascer. Te prepare. Vou chamar todo mundo para fazer uma concentração.


Nesse meio tempo, o Rô me propôs tomar o chá do Daime. Topei, para surpresa dele, sem vacilar. Ele conseguiu com uma amiga. Só precisa de alguém para buscar. A Ana Paula pediatra que tinha comentado com ele sobre partos com Daime bem legais se prontificou para ir buscar. Diante do comentário, o Rô teve a ideia de arrumar o chá. E sei lá como, ele arrumou.






O primeiro relato que ouvi de parto domiciliar foi com Daime. A mulher de um amigo, o Marcelo. Eles já tinham um parto hospitalar e falavam maravilhados das diferenças. Foi aí, bem antes de pensar em engravidar, que decidi que teria um parto domiciliar. A história me marcou e me emocionou.


Durante a gravidez, já estávamos ouvindo os hinários. O Marcelo tinha me enviado um sobre a força da criação. Nos comandos da pick up, estava a pediatra Ana Paula. Desistimos da saída para buscar o daime. A Ana Cris propôs uma manobra antes do chá. Foi bem bonito.


Nessa hora, eu já tinha certeza novamente que iria conseguir receber o Otto do jeito que queria e da melhor forma para ele e para a gente. O medo tinha ido embora. Fiquei dependura no Rô e a Catia e a Ana Cris apertaram o meu quadril. Ficamos nessa.


Depois fiquei agachada com o Rô me apoiando ( depois vendo o vídeo descobri que estava da banqueta de novo, não imaginei que podia ter conseguido sentar nela novamente. Só o vídeo para me convencer). Nas primeiras tentativas, eu me senti muito incomodada na mágica banqueta da Ana Cris.


O Rô respirava comigo e me ajuda a coordenar a força durante as contrações. Sentia ele comigo. Sentia que iríamos parir juntos. A Catia e a Ana Cris falavam: tá ótimo, isso mesmo. Vamos lá. Essa foi muito boa. Quando perdi uma contração, a Ana Cris falava: tudo bem, essa foi curtinha, agora não vamos desperdiçar a próxima que será longa.


A Ana Cris me ensinou a cheirar oxitocina, falei com ela que era igual a cheirar loló. Ela não sabia o que era. Mas o Rô deu muita risada. Pronto, vamos lá. Coloquei o dedo e senti a cabeça do Otto. Nossa, que força que me deu.


Depois ele abaixou mais. A AC colocou o espelho para me mostrar. Vi que ele estava lá. Tava tudo certo. Em algum momento, bateu de novo um medinho, porque vi que entre as contrações ele subia um pouco. A Catia explicou que é assim mesmo. Sobe e desce mais. Então, vamos lá.


O Rô ficava com a mão firme na minha barriga e respirando comigo. Perdi o ritmo, sentia ele junto e retomava. Sabia que não estava sozinha, a força do Rô entrava no meu corpo pela barriga e pelo nariz. Eu sentia a força dele dentro de mim, chamando pelo nosso filho.


Nessa hora, me sentia mesmo chapada. Não ouvi direito, parecia um filme. Fiz força. A Catia falou: agora vem, sem medo, que se dane a dor, o seu filho esta chegando. Sentia a queimação. Elas falaram é o círculo de fogo. Achei tudo lindo. Pronto. Pensei nisso, que se dane tudo. E vi que a cabeça esta mais perto. Me assustei quando senti que a cabeça saiu , pensei que iria ainda fazer muita força. Pronto, mais uma e senti ele deslizando. E pronto, já senti o Otto, meu bebezinho, melado nos meus braços. Caramba. Que coisa linda. Que estado de graça. O Rô, eu e ele ficamos encaixadinho sem falar coisa com coisa. Eu virei para olhar o Rô, que estava com os olhos fixos nele. A gente se olhou forte nos olhos. O olhar do Otto era intenso. Ele me deixou até constrangida. Não sabia o que fazer com aquele serzinho me olhando tão profundamente. Eu senti os pezinhos dele me chutar, pensava que era outra contração. Senti os pezinhos dele várias vezes intensamente durante o trabalho de parto.


Vi que ele tinha um tufão na cabeça ( praticamente duas cabeças). Assim, que olhei para aquilo a Ana Paula falou: isso some em duas horas. As avós entraram no quarto. Queria mostrar ele para mãe. Mãe voltou, mostrei meu filhinho lindo. Nossa que coisinha no meu colo. Pegava nele no Rô. Não sabia o que fazer, a não ser olhar para ele. Depois, demos o peito, que não deu em nada. No meu colo, chegava fraldas saídas literalmente do forno para aquecer ele. A toquinha azul não serviu direito hahhah


Foi uma curtição, ver a Ana Paula pesando ele naquelas fraldas. Depois colocar a roupa, que faltou a fralda. Ele voltou para o meu colo, com o Rô do lado. O Avô entrou para ver.


Rapidinho a placenta nasceu. E foi todo mundo. Ficou, eu o Rô e ele. Que sonho. Depois comida de mãe e nos quatro (mãe também) apagamos num sono de puro amor. Ah, ele nasceu com a cabecinha meio de lado e com a mãozinha no rosto. Tipo, tava ficando cansado de tanto esperar.


A vizinha acompanhou o trabalho de parto e conta que se emocionou quando ouviu o choro dele. Ela também ficou preocupada quando o trabalho de parto travou..


Os pais do Rô ficaram na varanda... quase furando o chão, mas seguraram bem a onda. Mãe não deitou, ficou direto na função.






Acordamos ainda em estado de graça e assim seguimos.















Peitinhooo, peitinhooo

Nossa, está muito engraçado o Otto pedindo o peito. Agora, é assim: peitinhooo.
Tá muito lindo ele de papagaio tambem. Repete sempre a última palavra que a gente fala. E pede tudo que quer, bem enfático. O duro é que tem hora que fica muito dificil de entender.
ah, em tempo: ontem, ele ficou de limite. O Rô deixou ele no quarto com a porta fechada por alguns segundos, para aprender a não jogar comida no chão.

Nossa, foi duro para mim.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mamãeee, peitimmm

Cadê o Otto? Foi uma sensação assutadora. Na madrugada gelada, eu ouvi ele me chamando. No escuro, procurava entre os cobertores no futon na sala, mas nada. ´Ouvi os chamados:  Mamãeee, peitimmm.  Sonada, achei. O rapazinho estava em pé do lado da cama. Apavorada, acordei o Rô  e falei: Ele caiu.  Mas o Otto tranquilo, continuava a pedir o peitimm.  Não entendi direito o que aconteceu até agora. Acho que  o rapazinho desceu da futon durante à noite.
Resolvemos dormir os três juntos no sofá da sala, porque o frio estava de lascar e ninguém merece dormir, nessa época, sem um bom cobertor de orelha. Ainda mais se for no quarto gelado do Otto.
Na madrugada, o Otto apareceu em pé no chão pedindo o peito. Acredito que se tivesse caído, tinha feito barulho. Ele tinha chorado. Sei lá. Mas nada. Apenas estava lá, em pé. Vai saber. 
Foi um susto e tanto.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Estilo magro e alto faz todo o sentido

Cesárea aumenta em 58% risco de obesidade

Pesquisa da USP comparou peso de 2.000 pessoas nascidas de parto normal ou
cirúrgico

JULIANA COISSI

DE RIBEIRÃO PRETO


O risco de ficar obeso na idade adulta é 58% maior para quem nasce de cesárea do
que de parto natural. A conclusão é de pesquisa que acompanhou 2.057 pessoas no
nascimento e os 25 anos de idade, organizada pela USP de Ribeirão Preto e
publicada no "American Journal of Clinical Nutrition".
Um motivo possível para essa relação é que, na cesárea, o bebê não entra em
contato com a flora vaginal da mãe, como no parto normal.
A falta de contato pode afetar a formação da flora intestinal, facilitando a
obesidade, segundo a gastroenterologista Helena Goldani, uma das autoras do
trabalho.
Outros estudos já mostraram que crianças com menor quantidade de bactérias
"boas" para a flora intestinal no primeiro ano de vida eram mais obesos aos sete
anos. Os pesquisadores da USP decidiram, então, avaliar a hipótese em adultos.
Um grupo de jovens nascidos em 1978, cujos dados de parto haviam sido
registrados, foi convocado para uma nova avaliação feita entre 2002 e 2004.
Os jovens, com idades entre 23 e 25 anos, foram pesados e responderam a questões
sobre atividade física e alimentação, entre outras.
Dos que nasceram de cesárea, 15,2% tinham índice de massa corporal acima de 30,
que indica obesidade. Entre os nascidos de parto normal, 10,4% eram obesos.
São casos como de Ana Cláudia de Castro, 32. Ela nasceu de cesárea e diz sempre
ter "brigado" com a balança.
"Consigo emagrecer, mas, depois, ganho peso."
Agora, os pesquisadores vão analisar a flora intestinal de bebês nascidos de
parto cesariano. Eles estão coletando fezes de bebês que hoje têm um ano.
Fábio Ancona, pediatra nutrólogo da Unifesp, diz que o resultado da pesquisa
serve como alerta, porque o Brasil é "recordista" de cesáreas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fase do medo



Agora, temos que aprender a lidar com a fase do medo. Coisas que o Otto amava, como, por exemplo, a máquina de fazer pão, viraram seres horripilantes.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

terça-feira, 3 de maio de 2011

Parir com Prazer

Para aqueles que têm filhos que vão ter filhos e para quem planeja ter, a leitura pode ser um bom guia nessa jornada maravilhosa.




Compartilhe Nove meses, nove mulheres, nove histórias de amor

Eliane Brum


“Acho que exagerei na lasanha de berinjela”, comentou Luciana Benatti com o marido, Marcelo Min. Passava das dez da noite e Luciana, com 37 semanas e 4 dias de gestação, tinha sentido uma dorzinha. Não era a lasanha. Era Pedro, mas naquele momento ninguém sabia que ele se chamaria Pedro, porque os pais achavam que ainda teriam alguns dias de gestação para decidir o nome e preferiam descobrir o sexo apenas quando o bebê se apresentasse. Na madrugada, primeiro chegou a doula. Depois a pediatra. E em seguida a obstetra. Daria qualquer coisa para saber o que o porteiro do edifício no bairro de Pinheiros, em São Paulo, imaginou ao ver três mulheres chegando de malinha no meio da noite. Tudo – de homicídio a orgia – menos que alguém daria à luz no sétimo andar. De repente, já havia uma piscina inflável, decorada com uma alegre fauna marinha, no meio da sala. E uma mangueira de 50 metros levava água quente do velho Lorenzetti até banheira improvisada. Foi lá que Luciana começou a dar aqueles berros primais e libertadores, porque dói mesmo, para algumas mulheres mais do que para outras. E de novo fico pensando no que o pobre porteiro deve ter imaginado quando os vizinhos começaram a interfonar. Arthur, pelo menos, resolveu espiar o que estava acontecendo. Aos quatro anos, ele desembarcou da cama esfregando os olhos amendoados e encontrou uma festa na sala. Como Luciana sabia que nada melhor do que um bom berro quando a contração chegava mais forte, percebeu que precisaria explicar ao menino o que estava acontecendo antes que ele se desesperasse. “Filho, para o irmãozinho sair da barriga, a mamãe vai ter que dar uns gritos de leão”. Arthur é louco por qualquer bicho – mas rei é rei, e rainha melhor ainda. Adorou. E a partir daí, sempre que sua mamãe leoa berrava, ele ria e batia palmas na maior empolgação. Foi assim que Pedro escorregou para o mundo. Marcelo e Arthur, pai e filho, cortaram o cordão umbilical. E depois de um soninho gostoso, Luciana acordou pela manhã com os dois filhos ao seu lado e um café na cama preparado pelo Marcelo. O melhor pão com requeijão da sua vida.



Esta história é contada pelos protagonistas, a jornalista Luciana Benatti e o fotógrafo Marcelo Min, num livro – muito – importante lançado nesta quarta-feira, 4/5 (a partir das 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo). Parto com amor (Panda Books) é a narrativa de uma trajetória que começou em 2007, com a gestação de Arthur, o orgulhoso animador de partos do parágrafo anterior. E só terminou no ano passado, com o nascimento de Pedro.



Ao ficar grávida pela primeira vez, quatro anos atrás, Luciana pensava em ter parto normal, mas nunca tinha ouvido falar de parto humanizado. Como boa parte dos médicos, o dela disse: “Parto normal é o melhor para a mãe e para o bebê”. Mas não respondia – e até se irritava – com as perguntas de Luciana. “O que mais a senhora quer saber?”. Um dia Luciana, já com um barrigão de 35 semanas, encontrou uma amiga jornalista. “Mas você tem certeza? Muitos médicos dizem que fazem (o parto normal), mas na hora inventam uma desculpa para a cesárea”.



Luciana ficou bem irritada com a amiga que duvidava do seu médico naquela altura da gestação. Mas o comentário permaneceu fincado como um alfinete em sua cabeça e, na consulta seguinte, diante de seus questionamentos, o médico soltou esta pérola: “Por que você está tão preocupada com o parto? Cuide das roupinhas e da decoração do quarto e deixe que do parto cuido eu”.



Não era esta a ideia que Luciana e Marcelo compartilhavam sobre o parto do seu filho. Eles tinham certeza de que quem tinha de cuidar do nascimento do bebê eram eles – e especialmente Luciana, com o apoio de Marcelo. Nunca mais voltaram ao consultório do médico, que também jamais os procurou para perguntar o porquê.



Um mês depois Arthur nasceu num parto natural na banheira da maternidade de um hospital, sem anestesia, sem episiotomia (o corte que obstetras costumam fazer no períneo da gestante com a justificativa de que ajuda no nascimento e evita lesões maiores) e sem soro com ocitocina (medicamento usado para aumentar a frequência e a força das contrações). Arthur desembarcou do útero no seu tempo, forte e saudável. E Luciana deu à luz inspirada nas suas avós: Aurora teve sete filhos de parto normal e Antônia, sete. “Foi um daqueles momentos que fazem a vida valer a pena”, diz Luciana. “Fui a protagonista da minha história.”



E foi assim que outra história começou – a do livro. Marcelo, um dos melhores (e mais sensíveis) fotógrafos do Brasil, registrou em imagens o parto de Arthur. Ao refletirem sobre sua experiência, Marcelo e Luciana perceberam que valia a pena documentar o parto natural, comum nos países desenvolvidos da Europa, mas uma exceção no Brasil, um país com índices de cesariana superior a 80% nas mais conceituadas maternidades privadas – quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda no máximo 15%.



Nos últimos quatro anos, Marcelo e Luciana acordavam na madrugada com telefonemas do tipo: “Vai nascer!” ou “Começou!”. E lá se ia Marcelo com seu equipamento, enquanto Luciana ficava com Arthur. Depois, a jornalista fazia uma longa entrevista com cada uma das mulheres em suas casas, para que contasse sua trajetória a partir do seu próprio olhar – todos os textos do livro são na primeira pessoa e cada um deles traz o jeito particular da autora daquele parto. A cada final de capítulo, há uma seção de perguntas e respostas feitas com muita responsabilidade, precisão e conhecimento, que esclarecem questões trazidas na narrativa.



Como os meses de uma gestação, são nove histórias de mulheres – e homens – que decidiram se tornar protagonistas do nascimento de seus filhos. Cada uma delas com seu próprio caminho, suas possibilidades, seus conflitos e também seus limites. Cada capítulo nos dá uma história contada em duas linguagens – o texto e a fotografia. E ao final de cada um deles sofremos e nos alegramos junto com aqueles homens e mulheres – e bebês lindos e amarrotados – que passamos a sentir como se fossem da família.



Marcelo ganhou das gestantes o apelido de “fotógrafo invisível”, pelo seu dom – já testemunhado por mim em reportagens muito delicadas que fizemos juntos – de registrar a realidade com uma câmera enorme sem que ninguém se sinta invadido ou mesmo perceba a sua presença. As duas fotos abaixo são do primeiro capítulo, justamente o parto de Arthur. A mulher, berrando na banheira, é Luciana. Sim, parto dói, mas há uma diferença fundamental, que a maioria das pessoas parece ter esquecido, entre dor e sofrimento. A do parto é uma dor que não vem da doença e da morte, mas da saúde e da vida. É uma passagem. Você está junto com seu filho, ajudando-o no primeiro momento mais importante da vida que se inicia fora do útero materno. E poder berrar, sem que nenhum obstetra ou enfermeiro torça o nariz, é libertador.







Parto com amor é um livro que registra um dos movimentos femininos mais interessantes deste início de milênio (e que, para muitas parcelas da sociedade, permanece invisível): a decisão das mulheres de recuperarem a posse do corpo em um momento crucial da vida – o parto do filho. Elas passaram a perceber que dar à luz não é um procedimento técnico apenas, mas algo que vai definir uma questão determinante para tudo o que vem depois: o nascimento de uma mãe.



As decisões tomadas no parto e a forma como cada mulher lida com a gestação é parte da construção da maternidade que também ali se inicia. E para cada filho – e não apenas o primeiro – há uma mãe diferente que nasce. Assim como a forma que cada homem lida e participa – e a sua presença ou ausência nesse momento – também é determinante para a paternidade que se inicia, para o pai que também nasce.



Assumir a responsabilidade de parir é uma etapa essencial do processo de fundação e autoconhecimento da família recém nascida. Assim como delegar todas as decisões do parto para a autoridade médica também é, pelo avesso. Tanto uma escolha quanto a outra têm significados e consequências.



Em boa parte dos países desenvolvidos, a cesariana não é uma escolha, como é no Brasil. Da mesma forma que qualquer pessoa de bom senso acharia um absurdo se submeter a uma cirurgia nos rins ou na próstata sem necessidade. Nesta visão responsável da saúde, a cesariana é um procedimento de grande seriedade, como qualquer cirurgia, realizado apenas quando é necessário. E só é necessário quando há um risco comprovado para a mulher e para o bebê, quando é a realmente a melhor alternativa para a mulher e para o bebê.



Se esta fosse a verdade do atendimento às gestantes no Brasil, por que só as brasileiras teriam indicação de cesariana em mais de 80% dos nascimentos nas maternidades privadas – e não os 15% previstos pela OMS? Será que as brasileiras são mulheres diferentes das demais mulheres do mundo? Teriam um corpo diferente, que as impossibilita de parir seu filho de forma natural?



Assim, que bom que vivemos um momento da medicina em que, quando há risco para a mãe ou para o bebê, é possível fazer uma cirurgia. Mas que pena que um número significativo de cesarianas é realizado todos os dias não por necessidade real, mas por comodidade do médico e da mulher. E, mais triste ainda, que um número considerável seja feito à revelia da mulher.

Diante dessa realidade e da sensação de que algo estava errado na experiência vivida nos consultórios e nos hospitais, em diferentes partes do país mulheres começaram a reagir. Sem encontrar respostas nos lugares óbvios, em geral contaminados pela cultura da cesariana e pela ideia da autoridade inquestionável do médico, elas passaram a criar grupos de discussão e de pesquisa na internet. Ao voltarem arrasadas da consulta, mães de primeira viagem encontravam pelo Google mães mais experientes que respondiam a suas perguntas e lhes davam orientação.



Duas destas mulheres, cada uma com uma história diferente, podem ser vistas nestas fotos extraordinárias. Na primeira, Denise, Lauro e a pequena Alice, no momento do nascimento. Na segunda, Andréia aconchega Maura, que acabou de nascer no ofurô. Matheus já deu as boas-vindas à irmã e muitos beijos na mãe. Em seguida, foi fazer xixi. “Muita gente se surpreende com esta foto”, comenta Andréia no livro. Como se o xixi fosse sujo, nascer fosse limpo e o fato de os dois estarem tão próximos pudesse fazer algum mal para o bebê.” A resposta padrão de Andréia é a seguinte: “Você sabe por onde ela saiu? Então, qual é o problema?”.







Pela internet, tornou-se possível recuperar uma tradição perdida: a das mulheres mais velhas ou experientes que compartilham seu conhecimento com as mais novas. A velha sabedoria das mães e das avós, só que a rede virtual e as mudanças culturais do nosso tempo tornaram esta uma família expandida. Hoje, há centenas de sites, blogs e listas de discussão de mulheres sobre gestação e parto. É possível, inclusive, assistir a partos pela tela do computador, em tempo real. Em algumas cidades brasileiras, profissionais da saúde adeptos do parto natural e humanizado formaram grupos onde as mulheres fazem cursos e trocam experiências. Trocam também indicações de doulas, parteiras, obstetras e pediatras que garantidamente vão respeitar suas escolhas, manter seu bebê junto delas e só realizar uma cesariana se for realmente necessário.



Da mesma forma que a internet deslocou o poder em muitas esferas – com o acesso à informação, a ampliação das vozes e a possibilidade de divulgação –, também teve profundo efeito no protagonismo do parto no Brasil. E, como toda mudança, esta causa um bocado de polêmica e resistência – especialmente entre a parcela dos profissionais de saúde que sente seu poder, antes inquestionável, ameaçado. Não acredito que esse movimento seja revertido. Pelo contrário, me parece que a tendência é crescer e se multiplicar com a ajuda das redes sociais.



Parto com amor é um dos primeiros livros brasileiros a documentar esse fenômeno cultural tão interessante. E recebeu o apoio entusiasmado de uma das brasileiras mais famosas do mundo, a supermodelo Gisele Bündchen. A maioria das celebridades marca dia e hora para botar seus filhos no mundo, a data é escolhida com a ajuda de um numerologista e o mapa astral está na lista do enxoval. Gisele, a celebridade entre as celebridades, não. Ela faz parte desse movimento novo. Teve seu filho Benjamin em casa, na banheira, com parteira, da forma mais natural possível. E sofreu críticas por causa disso.



Em entrevista ao Fantástico, programa da TV Globo, ela disse: “Meu parto não foi dolorido em nenhum momento. Não foi assim, ai que dor, mas a cada contração eu pensava que meu bebê estava mais perto de mim. Eu transformei aquela sensação intensa, que acontece para todo mundo, em uma esperança de ele estar chegando mais perto. E no segundo dia (depois do parto) eu já estava caminhando, lavando louça, fazendo panqueca, sabe assim, vida que segue”.



Gisele leu Parto com amor e comenta na contracapa do livro: “O parto pode ser, sim, um momento poderoso de transformação, alegria e prazer. Espero que este livro inspire muitas mulheres”. Depois, encomendou exemplares para dar de presente às irmãs